quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Conflito de Momento

Em mais um daqueles dias banais, ao entrar no ônibus e sentar-me numa cadeira próxima ao cobrador, pude ouvir a voz rouca de um homem, vinda da parte de trás, dizendo palavras desencontradas, até que finalmente foi possível ouvir o que ele dizia:

- Minha mulher todo domingo me chama pra ir na igreja mas...

Logo percebi no esforço de seu discurso, que o cidadão estava um pouco alcoolizado - bêbado mesmo, conversando sozinho e compartilhando a sua vida para todos os ilustres desconhecidos. E ele continuava:

- Como posso eu deixar de tomar minha cervejinha com os amigos para me enfurnar numa igreja, ah não, final de semana é diversão... Parou novamente no que parecia ser um cochilo, e de súbito, o homem desperta e retoma a conversa.

- Mas bem que a minha mulher também tem razão. Deus é bom! Sabe, outro dia mesmo, eu estava com uma dor de cabeça danada, (relata o homem com uma expressão profunda e dolorida), rezei por tudo que é mais sagrado e a dor passou. Agradeci tanto a Deus!

Agora veja o que tudo isso me lembrou: o homem barroco, lá do século XVII e XVIII, sei lá, aquele ser dividido entre o bem e o mal e cheio de conflitos. E novamente, a voz daquele cidadão corta meus pensamentos e me chama atenção:

- Eu sei que não sou mais garoto e qualquer dia a morte vai chegar pra mim, afinal todo mundo morre... Não é mesmo? (ele se esforça para completar a frase). Por isso, eu penso nos meus filhos e na minha mulher, também. Eu não quero deixar eles aí à toa na vida... Eu me mato de trabalhar, mas o dinheiro não dá para tudo, por isso eu tenho que aproveitar, enquanto é tempo.

- Minha mulher também é feliz do jeito dela com a sua religião. Quem sabe, um dia, eu me junto a ela, sei não!

Mais uma vez, me vem à mente aquele contexto barroco. Triste homem barroco. Triste de nós! Afinal, independente da época meu caro leitor, estamos em constante conflito, dúvidas que permeiam nossa mente, corpo e razão.

2 comentários:

  1. Massa colega. Muito interessante mesmo.
    Me veio o pensamento de que os inúmeros desconhecidos que passam desapercebido em nosso cotidiano são vidas, e que estas vidas estão recheadas de alegrias e tristezas escondidas nestas mentes, que são verdadeiras caixinhas de surpresa.

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  2. Oi Cris,
    como sempre cheio de palavras
    agradáveis.

    Obrigada!

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