domingo, 4 de dezembro de 2011

Os Delírios de Consumo de Beck Bloom

Na visão da professora Sílvia Pimenta, “é aderindo a determinados estilos de vida, comportamentos, valores e hábitos de consumo, que o homem moderno constrói uma identidade”. O filme Os Delírios de Consumo de Beck Bloom mostra os reflexos dessa atual sociedade, livre para fazer suas próprias escolhas, porém com o indivíduo perdido na tarefa de criar a si mesmo, após ter rompido com os valores de uma sociedade tradicional.

A protagonista Rebecca Bloomwood - Becky Bloom (Isla Fisher) é uma jovem enlouquecida por compras. Ela encontra no cartão de crédito a forma mais fácil de atender ao seu vício, numa corrida desesperada por promoções. Formada em jornalismo, Becky sonha em trabalhar numa famosa revista de moda - Alette, mas ironicamente ela acaba sendo contratada para ser colunista em uma revista de economia.

Ao se deparar com a tarefa de produzir textos para o público da revista, a qual trata justamente, da melhor forma de “gastar o dinheiro”, Backy tenta buscar conhecimento sobre economia através da internet, mas logo tem ajuda de seu editor Luke Brandon (Hug Dancy), dando início a um interesse mútuo entre eles.

Na tentativa de escrever seu primeiro texto, a personagem luta para resistir a mais uma tentação nas lojas da cidade. Dividida entre a obrigação do trabalho e as modelos das vitrines, que literalmente chamam a personagem para mais um consumo exagerado, ela se rende e se entrega mais uma vez. Nas angústias e arrependimentos após ter comprado tanta coisa, das quais nem precisa, Backy se depara com o vazio dentro de si mesma e nas páginas em branco do texto que não foi construído.

Depois de refletir, Backy decide escrever as suas emoções e finalmente conclui seu primeiro texto para a revista. Para a surpresa geral, suas idéias são aprovadas tendo boa repercussão entre os leitores. Porém, ninguém sabe que a garota que reflete e escreve sobre o uso do cartão de crédito, é a mesma que usa e abusa desse “dinheiro de plástico”.

Entre o romance com Luke Brandon e os eventos da revista, Becky tenta driblar seu “cobrador oficial”, um homem que a persegue em todos os lugares para que ela quite as suas dívidas. Nem mesmo seu namorado conhece a real Rebecca Bloomwood, endividada e compulsiva. Assim, em um programa ao vivo, do qual Becky Bloom foi convidada, o cobrador aparece e faz sua cobrança diante de todas as câmaras. Ela é desmoralizada perante o público.

Diante dessa situação, a protagonista busca ajuda no grupo dos Consumistas Anônimos. Arrasada, Becky tenta recomeçar a sua vida. Faz um leilão para vender todas as suas roupas, e como muita dificuldade consegue se desfazer de cada peça que sai do seu guarda-roupa. Essa atitude é o ponto de partida na busca pela identidade perdida no vazio do seu armário.

O diretor do filme, J. P. Hogan faz uma reflexão desse consumo desenfreado, mantida pelos anúncios publicitários. A personagem interpretada pela atriz Isla Fisher, leva à análise dessa sociedade “livre”, que consegue obter rapidamente os produtos desejados, mas que se perde e fica refém do jogo mantenedor do capitalismo.

sábado, 9 de julho de 2011

A Era do Rádio

Da visão de um menino se configura a era mais preciosa. Nas décadas de 30 e 40, entre guerras e luxos, uma família observa os acontecimentos através desse aparelho tão querido e indispensável, o rádio. Escrito e dirigido por Woody Allen, A era do rádio é um filme que não surpreende com cenas impactantes, mas sim, na apresentação hilária do cotidiano das pessoas, sempre acompanhada de melodia.

O menino Joe (Seth Green), personagem central, narra e revive as histórias do filme. Através dos programas preferidos de seus familiares - “Café da manhã com Irene e Roger” ouvido por sua mãe, “As maiores lendas do esporte” que seu tio adorava e “O tribunal do relacionamento” escutado por seus pais - Joe conta a diversidade do rádio e traduz o modo de vida da época. Ele também era ouvinte assíduo e fascinado pelas aventuras do “Vingador mascarado”.

Joe leva sua memória ao glamour dos salões de festas freqüentados pelos astros do rádio, à personagem Sally White (Mia Farrow) que sonhava em ser cantora, e também aos lugares fascinantes que passeou com sua tia Bea (Dianne Wiest), que vivia às voltas com pretendentes, louca para se casar.

Diversos personagens e episódios verídicos engrandecem o filme. Em meio à Segunda guerra mundial, o rádio é a fonte principal de notícias. A informação sobre o ataque à base norte-americana de Pearl Harbor, logo toma o espaço de um programa que estava sendo apresentado ao vivo. O poder desse veículo também  é capaz de confundir realidade e ficção, como ocorreu na transmissão de um episódio do cineasta Orson Wells, sobre a invasão dos marcianos. Ao ouvir a narração sobre a chegada de marcianos à terra, muitas pessoas na época pensaram que isso estava realmente acontecendo, e ficaram apavoradas.

A força do rádio interfere até na religiosidade. Certa vez, a família de Joe fica irritada com os moradores da casa ao lado, pois eles estavam escutando música num dia religioso considerado impróprio. Então, seu tio Abe (Josh Mostel) vai até lá tirar satisfações. Já na casa do vizinho, ele é envolvido pelo ambiente do lugar com boa comida e música, e esquece toda indignação que te levou lá. Minutos depois, ao voltar para sua família, Abe trás uma concepção bem diferente: “A religião é o ópio da massa”.

E o pequeno Joe vai vivendo assim, nos arredores da cidade em busca de aventuras com seus amigos, e na sua casa de ambiente inquieto e hilário, porém harmônico e verdadeiro. Com a família numerosa de tios, prima, avós ele encontra a leveza da união familiar ao redor do rádio. A trilha sonora nostálgica que acompanha o roteiro do filme se confunde com as músicas mais belas, ouvidas principalmente por sua tia Bea numa tarde tranqüila na varanda de casa.

domingo, 17 de abril de 2011

CHARLES CHAPLIN, GÊNIO DO RISO E DO AMOR

122º Aniversário de Charles Chaplin 

Quando penso na imagem de Carlitos, personagem de maior visibilidade do cineasta Charles Chaplin, admiro e reflito. Como é possível uma pessoa expressar sentimentos tão opostos, de maneira tão perfeita: o homem de feição cabisbaixa que parece abrigar toda a tristeza do mundo e aquele, ingênuo sedutor onde a felicidade e a esperança parecem morar.

Charles Chaplin não é apenas um cineasta criativo e versátil, ele é otimista da vida. Um insatisfeito com as injustiças sociais, a miséria, a repressão. Porém, incansável, que retrata através das telas, seus ideais de mudanças e sonhos de liberdade.

Sua sensibilidade deixa um legado de aprendizado e sabedoria para a humanidade. Mesmo diante das tragédias, ainda vejo naquele andar peculiar de Carlitos, equilibrado pela inseparável bengala, a esperança de dias melhores.


Charles Spencer Chaplin nasceu em Londres, Inglaterra, em 16 de abril de 1889. Seu pai foi um versátil vocalista e ator, sua mãe, conhecida com o nome artístico de Lily Harley, foi uma atraente atriz e cantora, que ganhou a reputação de seu trabalho no campo light opera.Um grave problema de laringite acabou com a carreira da jovem Lily Harley, obrigando Charles Chaplin a debutar artisticamente com apenas cinco anos de idade.
Os primeiros anos da vida de Chaplin se passaram em orfanatos, e foi neles onde Chaplin encontrou todos os elementos que utilizaria mais tarde nos roteiros dos filmes que dirigiu e interpretou. Essa primeira etapa da sua vida não tinha o humor nem a ironia com a qual o cineasta sensibilizou o público do mundo inteiro. Felizmente, Chaplin acabou construindo a sua vida com a única coisa positiva que poderia ter herdado da sua família: a paixão pelo teatro. Pouco depois, a morte de seu pai e a internação da sua mãe em um sanatório marcariam a vida de Chaplin profundamente. Nessa época assinou seu primeiro contrato estável como ator, interpretando um mensageiro em uma versão de Sherlock Holmes. Com esse trabalho, melhorou sua situação financeira. Nesse mesmo ano conseguiu um emprego no Circo Casey, onde pôde desenvolver as suas habilidades cômicas.
Charles foi o mais famoso ator dos primeiros momentos do cinema hollywoodiano, e posteriormente um notável diretor. Seu principal personagem foi O Vagabundo (The Tramp): um andarilho pobretão com as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro, vestindo um casaco firme e esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e sua marca pessoal, um pequeno bigode. Chaplin iniciou sua carreira como mímico, fazendo excursões para apresentar sua arte.
Em 1918, no auge de seu sucesso, ele abriu sua própria empresa cinematográfica e, a partir daí, fez seus próprios roteiros e dirigia seus filmes. Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade.
Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha.
O talento de Chaplin se estendida à escrita, música e esportes. Ele foi o autor pelo menos de quatro livros, "My Trip estrangeiro", "A comediante vê o mundo", "My autobiografia", "Minha vida em imagens", como todos os seus scripts. Um músico, embora autodidata, tocou uma variedade de instrumentos com igual habilidade e facilidade. Charles Chaplin faleceu no dia de Natal de 1977, em Vevey, na Suíça.




Textos de Charles Chaplin

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.
E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade.
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de... Amadurecimento.
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.
Hoje sei que o nome disso é... Respeito.
Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que se chama... Amor-próprio.
Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.
Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.
Hoje sei que isso é... Simplicidade.
Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.
Hoje descobri a... Humildade.
Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.
Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.
Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.
Tudo isso é... Saber viver!!!

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Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso...
Mostre aquilo que você é, sem medo.
Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu.
Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa.
Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos.
Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome!
Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la, mesmo que se sinta incapaz.
Procure o que há de bom em tudo e em todos.
Não faça dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação.
Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.
Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.
Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos...
Você já tornou alguém feliz hoje?
Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?
Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.
Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.
Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.
Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.
Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.
Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,
Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.
Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.
Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.
Ei! Você... não vá embora.
Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os Catadores da necessidade

No Bairro de Fazenda Grande II, às 13h, Reginaldo Fagundes retira os materiais recicláveis de uma lixeira pública, em mais um dia de trabalho. Na sua frente, uma sacola de náilon com garrafas Pet, latinha, papelão, vaso de desodorante. “Já fiz oito sacos desse, desde 5h da manhã”, diz Reginaldo.
A gente se arrisca trabalhando sem luva, porque com ela os objetos deslizam e fica ruim para pegar, ele diz, apontando para dois catadores que se aproximam, também sem usar luva, e logo confirma o que Reginaldo havia dito.
A atividade dos catadores é responsável pelos altos índices de reciclagem no Brasil e surge principalmente pelo desemprego e exclusão social. Isso confronta com a idéia de um desenvolvimento que una sociedade, meio ambiente e economia de maneira sustentável e includente.
“Eles estão desamparados socialmente, há uma discriminação muito grande com eles”, afirma Damião Eloi do Bonfim, dono de um estabelecimento que compra material reciclável, conhecido popularmente como “ferro velho”.

Necessidade de organização
“O estado de direito só reconhece movimentos verdadeiramente ativos quando existem números de pessoas”, diz Damião Eloi, que trabalha há sete anos com reciclagem. Um governo ainda insensato nessa questão, e a falta de organização e reivindicação dos catadores na Bahia, não atingem os órgãos públicos de maneira mais efetiva, acrescenta.
Segundo a gerente de ações da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), Iara Fagundes, às vezes o catador que está em situação de lixão, por exemplo, não consegue enxergar a necessidade de se organizar e sair daquela condição de risco, pois existe uma riqueza de material a sua disposição, e também a renda deles pode cair um pouco.
Damião é um tanto pessimista em relação ao cooperativismo: “muitas cooperativas no mercado são certas, mas outras são picaretas”, comenta. Além disso, a possibilidade de capacitação para um catador alcançar um cargo administrativo na cooperativa é pequena. Ele pensa em uma negociação real entre prefeitura, catadores e recicladores.
Damião Eloi defende a possibilidade de investimento em toda a cadeia da reciclagem, com o dinheiro que a prefeitura economiza na limpeza urbana. Ceder espaço para favorecer o trabalho, investir em consciência ambiental, além disso, proporcionar financiamento em longo prazo. No entanto, alguns catadores preferem a cooperativa, já que existem incentivos mínimos do governo e o salário é garantido.
A Cooperativa Canore - Catadores da Nova República, localizada em Santa Cruz, Nordeste de Amaralina, foi inaugurada em 29 de dezembro de 2006. Possui um galpão, onde os materiais estão dispostos para serem separados e prensados. Depois são levados para a fábrica de reciclagem Penha, em Porto Seco de Pirajá, explica a catadora Ana Cristina Barbosa, 24 anos.
Apesar da tentativa de conscientização no local, ainda não existe a separação do material reciclável, por parte da maioria das pessoas e Raquel Mendes, também catadora da cooperativa, diz que alguns moradores separam e outros colocam tudo misturado.
Atualmente há 20 pessoas na cooperativa Canore, que trabalham na busca de material reciclável. O lucro é dividido igualmente entre eles, numa renda de R$ 300 a R$ 450 reais por mês para cada um. Sobre a vantagem de trabalhar em uma cooperativa, Raquel, 56 anos sintetiza: “a união faz a força”. Ela fala que a participação da prefeitura, na Cooperativa Canore se refere à distribuição de farda completa, luvas, botas e de caminhão uma vez por semana, para transportar os resíduos.

Trabalhador autônomo
Jandira Nascimento, 53 anos, não tem vínculo com cooperativa. “Eu prefiro vender o meu material sozinha. Uns dá sangue e outros não, pra querer dividir no meio, não dá”, ela explica.
Começou aos 40 anos catando latinha, atualmente recolhe garrafas pet, latas, ferro, papelão, saco plástico. Quanto às condições de trabalho ela diz que não usa luva, pois teria que comprar. Sapato usa só no inverno, por causa do risco de contaminação com a urina de rato.
Jandira também fala da discriminação que sofre: “Muita gente fala, lixeira tá catando lixo, eu digo não, tô reciclando, o lixo vai para o carro da prefeitura levar”. Ela recolhe material todos os dias, geralmente das 6h da manhã até as 14h, depois leva ao “ferro velho”, onde separa tudo para pesar e receber o dinheiro.
Reginaldo Fagundes da Silva, 35 anos, trabalha há oito anos como catador. “Já fiz diversas coisas e não consegui o que estava querendo”, comenta Reginaldo. Ele diz que vendia frutas, mas foi repreendido pela fiscalização. Também trabalhou de carteira assinada num frigorífico, durante cinco anos.
Reginaldo conta que o dinheiro dele só dava para comprar comida e roupa, “nunca consegui colocar um móvel dentro de casa, trabalhando para os outros, agora eu tenho geladeira, fogão, DVD”. Ele continua dizendo que não sabe ler e não pensa em fazer outra atividade, pois ganharia pouco, no entanto, sendo catador consegue mais de um salário.
Em relação às cooperativas de catadores, Reginaldo explica: “Pra mim é desvantagem, se eu achar uma coisa de valor tem que dá, teve gente que entrou e saiu porque não era lucro”. Ele esclarece que ganha mais trabalhando sozinho, porém se fosse de carteira assinada ele participaria de uma cooperativa.
O governo deveria fazer um cadastro dos catadores para dar pelo menos uma cesta básica todo mês, defende Reginaldo, além disso, dar um galpão para armazenar os materiais recicláveis recolhidos. “Se fosse assim, já ajudaria muitas pessoas”, conclui.
“Estou querendo fazer minha casinha, que Deus a de me ajudar”, essa é uma das pretensões de Reginaldo. Ele é casado, e sonha em dar estudo e um futuro melhor aos seus seis filhos.

Ações do governo
De acordo com a gerente de ações da Setre, Iara Fagundes, a Secretaria do Trabalho tem uma ação de apoio aos catadores, organizados em grupos - cooperativas e associações. Essas ações dispõem de determinado valor para qualificação, capacitação e compra de equipamentos e fardamentos para os catadores, além de material de divulgação sobre a reciclagem.
Em relação ao trabalho individual não existem ações permanentes. Ela diz: “A única que pode atender ao catador avulso – individual, é a ação nos lixões”, local difícil de encontrar um grupo que trabalha coletivamente. Então, a proposta é fomentar essa união associativa e melhorar suas condições de trabalho.
Iara explica que existe um projeto no carnaval, onde os catadores avulsos se cadastram em postos de apoios geridos pelas cooperativas. Recebem fardamento, crachá, alimentação e água, depois vendem as latinhas para as cooperativas. “Ali eles vão vender a um valor mais justo do que o preço dado pelos atravessadores – recicladores, que também estão no circuito”, completa Iara.
O trabalho dos catadores não tem um projeto de regularização. Há dificuldade em discutir isso com a prefeitura, adverte Iara. Esse é um público difícil, não se sabe quem realmente é catador sempre, nas cooperativas as pessoas entram e saem, pela dificuldade da renda, ela completa.

Ciclo da reciclagem
Há um ciclo muito grande no processo de reciclagem, comenta Damião, onde o próprio catador não tem a possibilidade de juntar o bastante para vender diretamente às indústrias que compram por toneladas, pois necessitam do dinheiro diariamente.
Portanto, tem os recicladores que são chamados de atravessadores, mas que na verdade participam dessa necessidade de fatiamento do mercado. O catador autônomo e o reciclador (aquele que compra o material reciclável) tem uma dependência mútua.
O fato do trabalho do catador ainda ser precarizado, remete a uma necessidade: “montar um conselho, porque nós não estamos em sociedade organizada pra poder cobrar nossos direitos”, ressalta Damião, e exigir uma política articulada entre município, estado e os catadores, como propõe Iara.
Independente da forma como executa seu trabalho, individualmente ou através de cooperativas, os catadores de resíduos sólidos são imprescindíveis para manter o consumo de maneira sustentável. O poder público também tem benefícios, entre eles o aumento da vida útil dos aterros.
O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) ressalta: “Lutamos pela autogestão de nosso trabalho e o controle da cadeia produtiva de reciclagem, garantindo que o serviço que nós realizamos não seja utilizado em beneficio de alguns poucos (os exploradores), mas que sirva a todos”.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Celebridades

Na opinião do escritor Douglas Kellner, “o espetáculo da mídia é, realmente, um culto à celebridade, que proporciona os principais padrões e ícones da moda, do visual e da personalidade”. No filme Celebridades de Woody Allen, isso é notável na apresentação dos personagens e no desenrolar da história, que além de tudo traduz os anseios de uma sociedade.
As figuras centrais, Lee Simon (Kenneth Branagh), jornalista que sonha escrever um livro e sua pacata esposa Robin (Judy Davis), traçam uma crise, que é na verdade o rompimento com a simplicidade do casamento, oposto às badalações de uma vida recheada de holofotes e espetáculos. O personagem de Branagh encontra-se em crise no casamento e consigo mesmo, então decide se separar da esposa e buscar novas experiências.
A partir desse momento Lee é totalmente fisgado pelo irresistível mundo da fama. Tem relações curtas e inconstantes com uma atriz, uma top model e com uma jovem e bela atriz iniciante, de princípios bem liberais. Enquanto isso, sua ex-mulher constrói laços sólidos, tanto amorosos quanto profissionais; passando a conviver com o glamour dos ambientes mais sofisticados.
Entre festas, badalações e famosidades, Lee Simon tenta terminar de escrever seu livro. Porém, vê novamente o sonho indo embora, junto com as páginas do caderno onde escrevia sua história, jogadas ao mar pelas mãos de mais uma mulher que ele deixa de lado, para viver aspirações com a jovem atriz.
Depois de tentar aproximações com escritores, famosos e artistas para promover um livro inacabado, Lee se encontra num pedido abafado e angustiante por socorro. Sozinho e sem fama, logo percebe que o show acabou antes mesmo de começar, não teve triunfo, nem glória.
Woody Allen apresenta de maneira irreverente e fatídica, uma realidade onde muitos não terão nem mesmo aqueles 15 minutos de fama, apesar dos inúmeros sucessos instantâneos surgidos diariamente. Já que a notoriedade não vem para todos, e nem todos querem a fama, então Allen recomenda; acostume-se com o que tem, ou continue tentando.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Arte e acessibilidade na Biblioteca Pública do Estado da Bahia

           Em comemoração ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência - 21/09, a Biblioteca Pública do Estado da Bahia promoveu no mês de setembro, uma programação aberta ao público e voltada para a acessibilidade. No dia 12 a partir das 11h, houve apresentação de pessoas com deficiência visual: o cantor Marcos Welby e o grupo de teatro Noz Cego.
          Com um repertório romântico e variado, o mestre em música pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Marcos Welby, fez uma apresentação de voz e violão. Ele contou que começou a tocar violão, desde os 14 anos, e após ingressar na Universidade enxergou a música como profissão. Ele também é professor e durante quatro anos deu aulas na Uneb, para o curso de fonoaudiologia.
          Marcos Welby apresenta-se em vários lugares do Brasil e tem dois CDs lançados. O primeiro em 2005 no Teatro Vila Velha, intitulado Não é só um sonho, o segundo Dono de Mim, em 2009, com participação da cantora Mariene de Castro. Considerando o poder de socialização da música, ao cantar junto, dançar, proporcionar alegria e esperança, o músico contou que é levado pela energia das pessoas: “Então eu começo de um jeito e termino de outro, eu começo sozinho e termino com público”.
           O Coordenador das ações culturais da biblioteca pública, Lucas Souza, ressaltou que o setor braille da biblioteca sempre desenvolveu atividades, voltadas principalmente para o público cego. Porém, com a criação recente de uma comissão, da qual a biblioteca faz parte, feita pelo Governo do Estado, houve a possibilidade de abrir espaço, para eventos direcionados a pessoas com outras deficiências.
           “Além de toda conscientização e educação, as ações culturais também mostram que pessoas com deficiência são produtoras de cultura, produz arte e tem o que mostrar”, comentou Lucas. A atriz Rosana Santos do grupo de teatro Noz Cego também enfatizou: “Quando o público vê o cego entrar sem bengala no palco, ele fica meio perdido, porque tem o preconceito, quando o cego está sem bengala ele está perdido, e se encontra justamente fazendo arte”.
           As palavras de Rosana se confirmam na percepção do público. Fábio, metalúrgico do complexo Ford disse que a apresentação superou suas expectativas, ele pensou que o tema da peça As Avessas, seria mais voltado à cegueira, porém os atores mostraram situações cotidianas, comuns a todos. “Tem um trocadilho bem feito, foi bem montada, como se estivessem visualizando um ao outro, achei bem interessante”, comentou Fábio.
           O diretor do grupo Noz Cego, Edielson, Licenciado em Teatro pela Ufba, fez sua monografia voltada para os deficientes visuais. Ao conhecer o grupo que já existia há dois anos, Edielson passou a experimentar novas técnicas, as quais davam maior liberdade ao corpo dos atores, deixando de lado as bengalas que antes faziam parte das apresentações.
           “O maior ganho é eles levantarem a idéia de que são atores em primeiro lugar e em último, que tem uma deficiência”, destaca Edielson e continua: “A maior inclusão é saber que os deficientes estão em cena e os videntes é que estão os assistindo”.
           A peça As avessas é formada por pessoas com cegueira total, baixa visão e monocular (enxerga apenas por um olho), explicou o diretor. Já tiveram em palcos de Salvador, Aracajú no Festival de Arte inclusiva, em 2008 e 2010, também na Paraíba, em 2009 no mesmo festival. São quatro anos com mais de cinqüenta apresentações. É um grupo que cobra pelas suas apresentações, dando uma característica mais profissional ao grupo, concluiu Edielson.
          Rosana, ou simplesmente Zanna Santos, como gosta de ser chamada, falou que deu início ao texto da peça As Avessas, inspirada no conto de Chapeuzinho Vermelho, daí se desenvolveu várias temáticas a partir da releitura de histórias infantis, com opinião e criatividade de todos. Ela dá continuidade ao seu trabalho artístico, escrevendo contos, crônicas e poesias no seu blog.
          A música proporciona alegria, como pontuou o cantor Marcos Welby. O teatro pode renovar esperanças perdidas, enfatizou Rosana, ao contar sobre a perda da visão de um olho, após um problema de saúde: “O mundo tinha acabado, mas quando me aliei aos deficientes visuais e formou-se o Noz Cego, o mundo só fez começar”.