domingo, 19 de dezembro de 2010

Arte e acessibilidade na Biblioteca Pública do Estado da Bahia

           Em comemoração ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência - 21/09, a Biblioteca Pública do Estado da Bahia promoveu no mês de setembro, uma programação aberta ao público e voltada para a acessibilidade. No dia 12 a partir das 11h, houve apresentação de pessoas com deficiência visual: o cantor Marcos Welby e o grupo de teatro Noz Cego.
          Com um repertório romântico e variado, o mestre em música pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Marcos Welby, fez uma apresentação de voz e violão. Ele contou que começou a tocar violão, desde os 14 anos, e após ingressar na Universidade enxergou a música como profissão. Ele também é professor e durante quatro anos deu aulas na Uneb, para o curso de fonoaudiologia.
          Marcos Welby apresenta-se em vários lugares do Brasil e tem dois CDs lançados. O primeiro em 2005 no Teatro Vila Velha, intitulado Não é só um sonho, o segundo Dono de Mim, em 2009, com participação da cantora Mariene de Castro. Considerando o poder de socialização da música, ao cantar junto, dançar, proporcionar alegria e esperança, o músico contou que é levado pela energia das pessoas: “Então eu começo de um jeito e termino de outro, eu começo sozinho e termino com público”.
           O Coordenador das ações culturais da biblioteca pública, Lucas Souza, ressaltou que o setor braille da biblioteca sempre desenvolveu atividades, voltadas principalmente para o público cego. Porém, com a criação recente de uma comissão, da qual a biblioteca faz parte, feita pelo Governo do Estado, houve a possibilidade de abrir espaço, para eventos direcionados a pessoas com outras deficiências.
           “Além de toda conscientização e educação, as ações culturais também mostram que pessoas com deficiência são produtoras de cultura, produz arte e tem o que mostrar”, comentou Lucas. A atriz Rosana Santos do grupo de teatro Noz Cego também enfatizou: “Quando o público vê o cego entrar sem bengala no palco, ele fica meio perdido, porque tem o preconceito, quando o cego está sem bengala ele está perdido, e se encontra justamente fazendo arte”.
           As palavras de Rosana se confirmam na percepção do público. Fábio, metalúrgico do complexo Ford disse que a apresentação superou suas expectativas, ele pensou que o tema da peça As Avessas, seria mais voltado à cegueira, porém os atores mostraram situações cotidianas, comuns a todos. “Tem um trocadilho bem feito, foi bem montada, como se estivessem visualizando um ao outro, achei bem interessante”, comentou Fábio.
           O diretor do grupo Noz Cego, Edielson, Licenciado em Teatro pela Ufba, fez sua monografia voltada para os deficientes visuais. Ao conhecer o grupo que já existia há dois anos, Edielson passou a experimentar novas técnicas, as quais davam maior liberdade ao corpo dos atores, deixando de lado as bengalas que antes faziam parte das apresentações.
           “O maior ganho é eles levantarem a idéia de que são atores em primeiro lugar e em último, que tem uma deficiência”, destaca Edielson e continua: “A maior inclusão é saber que os deficientes estão em cena e os videntes é que estão os assistindo”.
           A peça As avessas é formada por pessoas com cegueira total, baixa visão e monocular (enxerga apenas por um olho), explicou o diretor. Já tiveram em palcos de Salvador, Aracajú no Festival de Arte inclusiva, em 2008 e 2010, também na Paraíba, em 2009 no mesmo festival. São quatro anos com mais de cinqüenta apresentações. É um grupo que cobra pelas suas apresentações, dando uma característica mais profissional ao grupo, concluiu Edielson.
          Rosana, ou simplesmente Zanna Santos, como gosta de ser chamada, falou que deu início ao texto da peça As Avessas, inspirada no conto de Chapeuzinho Vermelho, daí se desenvolveu várias temáticas a partir da releitura de histórias infantis, com opinião e criatividade de todos. Ela dá continuidade ao seu trabalho artístico, escrevendo contos, crônicas e poesias no seu blog.
          A música proporciona alegria, como pontuou o cantor Marcos Welby. O teatro pode renovar esperanças perdidas, enfatizou Rosana, ao contar sobre a perda da visão de um olho, após um problema de saúde: “O mundo tinha acabado, mas quando me aliei aos deficientes visuais e formou-se o Noz Cego, o mundo só fez começar”.

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